Quando na vinda para casa viraste num atalho que não era o normal. Quando me olhaste pela primeira vez com esse olhar e me disseste : sua puta vadia, fazes-te assim aos outros? És só minha. Só minha. E eu desesperei e chorei. Porque? Eu não tinha feito nada. E pedi desculpa. E começaste a rir na minha cara. Disseste que eu era uma vadia, oferecida. E sabias bem que não, só te tinha a ti.
E depois abriste a porta do carro e num instante abriste a minha também e puxando-me pelos cabelos tiraste-me do carro. Em que estavas a pensar? Diz-me?
Atiraste me ao chão e esbofeteaste-me. Depois disseste que eu não prestava, que me oferecia em mil sorrisos aos teus amigos universitários, e quando eu reparei, já estava nua e tu, possesso em cima de mim, violaste-me. É um termo que se pode aplicar? Afinal éramos namorados. Violação existe em regime de namoro?
Não sei. Sei que todos os ensinamentos que tinha de defesa pessoal se esbateram. Como fugir de ti? Não dava, não dava, eu merecia aquilo. E na altura não compreendi. Acho eu que não.
Tentei esmurrar-te, pontapear-te, enfiei as minhas unhas na tua pele e cada vez insistias com mais força. Cada vez me magoavas mais. Eu chorava, eu suplicava e tu nada. Até ao ponto em que eu desisti. Deixei. Já não valia a pena.
Quando acabaste o teu serviço. Vestiste-me e levaste-me para o carro. Disseste exactamente assim: meu amor, não tens que contar a ninguém, isto é o que os papás fazem para terem bebés, mas os papás fazem com calma e amor, não assim. Assim fazem os chulos com as putas. Que é o que tu és. A minha puta. E, sabes, meu amor, eu vim-me dentro e fora de ti. Se engravidares será mais uma prova do nosso amor. Agora põe um sorriso na cara bebe, e limpa o sangue e a poeira da cara e vamos para casa.
E eu, morta, obedeci.