Tanta tristeza que me invade o peito sem pedir licença. Chega e apropria-se de mim. E eu deixo. Estou fraca, frágil e desprotegida. Já há algum tempo que não me abraçam e não me tentam abraçar. Já há algum tempo que não me olham nos olhos porque têm medo. Estou triste, confesso. Estou frágil. E eu não estou nunca frágil. E estou frustrada. Estou assim porque nada corre bem. Nada, nada. Tudo corre sempre mal. A escola, a vida, a família. Terei eu uma família? Acho que não. Não tenho nada. É isto que me dá a fragilidade, é não ter nada. E o que eu pedia? Um abraço só, e alguém que me dissesse que tudo vai correr bem. Mas engolir o meu orgulho e, baixar o meu forte de protecção e pedir um abraço? Não. Não peço. Não me importo. Eu estudo, e tiro notas de treta. Eu esforço-me com a minha mãe e ela continua a matar-me. Eu tento mesmo encaixar-me onde vivo, mas eu não pertenço aqui. Nunca pertenci. Já fiz uma mala, outra. Desde aí os meus oito anos que tenho uma mala no fundo do armário com bens essências, comida e roupa, e afins. Mas há dois anos percebi que não valia a pena, que eu nunca ia fugir. Então destruí-a. Mas não. Hoje voltei a fazê-la. Enchi-a de memórias, de complicações, de amores frustrados, de tristeza e guardei-a no fundo do armário. Mas nem isso resultou. Continuo triste e sentimentalmente morta. E eu, como não me reconheço assim, mais triste fico. E agora? Poderia chorar, mas nem as lágrimas colaboram comigo. Por isso, acendo este fósforo, acendo estas brasas, e ponho os meus pés em cima. Se tenho que passar pelo Inferno para ter um pouco de sorte e de bem-estar, fá-lo-ei rápida e dolorosamente. Amén.