pãozinho quente com manteiga a derreter...e ler uma sms em que me chamas princesa. acho que sou feliz por breves instantes. mas depois tudo volta. e os olhos ficam quentes de lágrimas. afinal eu sei chorar...
ps. eu venho aqui....(desta vez a sério)...um pouco antes das férias...tenho montes de coisas para fazer até segunda. e depois tenho montes de coisas para fazer até sexta.
Se hoje estivesses vivo eu acordaria mais cedo. Faria um pequeno-almoço de aniversário e levava-to à cama. Dir-te-ia ainda com remelas nos olhos que estás a ficar velhinho e dava-te os parabéns. Não te cantava os parabéns porque não gostas. Mas dava-te o abracinho com cuidado para não derrubar a cevada quente e forte. Tinha-te preparado um pãozinho quente com manteiga sem sal derretida, ordens do médico, diria tristemente. Depois. Ia-me vestir e arrumava a casa. E depois íamos comer fora. Vínhamos para casa e festejava com o resto da família com o pudim que a mãe tinha preparado no dia anterior. Pudim caseiro de ovos caseiros. Festejava-te os 61 anos que tinhas inscritos nas rugas da testa, nas marcas das mãos. E depois, eu faria uma birra qualquer. Porque estavas mais velho, e mais perto da morte. Eu era tão infantil. Que sempre que te começavam a cantar os parabéns eu chorava e refugiava-me, pensava sempre que estes eram os últimos. Apesar de teres morrido á três anos eu ainda carrego no peito a mesma dor de saber que não estás aqui mais. Ainda reprimo as lágrimas como fiz no teu velório. E ainda olho para a porta a ver quando entras. Como me torturam os comuns. Vestem as tuas roupas que doamos. Carregam os teus casacos caros e não se apercebem que ainda tem o teu cheiro. Quando me vêm perguntam sempre se não sou a filha do senhor doutor. Alguns, despercebidos, ainda me perguntam como estás... Eu rio-me e digo que já morreste. Mas como irei chorar na frente daqueles que no teu enterro me prometeram apoio incondicional mas que depois da porta do cemitério nunca mais soube deles? Hoje farias 61 anos, e eu iria chorar ao cantar-te os parabéns. Então. Fui à tua biblioteca intacta e peguei no livro que não tinhas acabado de ler. "Cem anos de solidão", levá-lo-ei ao cemitério e ler-te-ei a partir do separador que deixaste. É a única prenda de anos que te posso dar, porque as flores comprou-as a minha irmã. Descansa em paz. Ámen.
Se estão zangados com os vossos pais, façam as pazes. Se não falam com eles há muito tempo, liguem-lhes. Porque nem todos temos segundas oportunidades e eu hoje vou comprar flores para pôr a campa dele mais bonita.