Hoje fui correr, que o sono não me preenche, e o coração pesa. Vesti-me cedinho, ainda o sol não brilhava totalmente e meti-me na cama outra vez, esperando o sol abrir-me os olhos quentes de água. Escrevi um papel "fui correr para a pista, não levo telemóvel nem chaves, só o relógio" e saí de mansinho vestida de preto chorando. Era tão cedo que só no hotel havia movimento e até os bombeiros tombavam nas cadeiras e babavam. Ia andando, com o mp3 no decote para não fugir e a música tocando alta. Cheguei finalmente à pista e inspirei. Dei a primeira passada e comecei a correr como há muito não fazia. E a música mudou "Even if you're rich, Even if you're poor, Every breath you breathe, I'll be there for you". Oh como chorei. Como gritei. No meio do nada, só com o verde a me rodear eu chorei por ter errado. Mas continuei a correr, incrédula por possuir tantas lágrimas em mim. A verdade é que tropecei, os olhos marejados de água salgada moveram-me as lentes e eu tropecei. Dei uma bela queda, rolei a mouta e fui cair perto de umas árvores cortadas. Devo-me ter magoado tal não fora o reboliço da minha queda, doía-me o queixo, e nos joelhos via-se sangue. Devo ter sorrido, porque o sangue é algo que me aviva. E continuei a chorar por ver quando tinha caído e como arranjaria forças para voltar a subir. Em verdade vos digo, às 7 da manhã não fora a única a ter vontade de correr. Um semblante alto e forte, com barba e de calções apareceu a transpirar “ouvi os teus gemidos e corri até te encontrar”, desceu a mouta e veio no meu encalço. Pegou-me no colo e levou-me de volta à pista. Deitou-me sobre o chão e viu as minhas feridas, tirou um lenço do bolso e tapou-me o sangue vivo que saía. Oh como eu chorava, como eu chorava mas de tristeza. Pôs-me a mão na testa e desviou-me o cabelo e perguntou porque chorava. Eu falhei, eu falhei e destruí tudo. Elevou-me, e pegou em mim ao colo. Caminhou comigo uns quantos metros e depois deixou-me no chão outra vez. Não se foi embora, deu-me a mão e pôs-me a caminhar com ele enquanto eu chorava. Chorei incansavelmente durante dois quilómetros até que começamos a correr finalmente. Ele disse “inspira o ar puro, o cheiro das árvores vivas e vê os pássaros no céu. Tu não falhaste, que ainda estás de pé mesmo com folhas no cabelo e restos de terra nas costas. Inspira e não te deixes perder, não te deixes desistir. És uma guerreira, que cresce virada aos céus.” Estive com ele três horas. Depois, trouxe-me ao carro dele. Deitou-me no banco de trás. E disse que me levaria a casa. A realidade é que me devolveu ao conforto de casa, deixando na minha mão o seu contacto e sobre a minha testa depositou um beijo.