Não sei quando me paixonei por ti. Não me recordo da primeira vez que te vi, da primeira vez que te olhei e te quis.
Lembro-me do primeiro beijo, da primeira vez que te senti o sabor... E recordo-me tão em do teu calor. Da maneira como meaquecias por dentro, o que a vida esfriara.
Foste um amigo nas horas da solidão, um companheiro depois do almoço. Recordo me de te olhar com estes olhos brilhantes e apaixonados, e te deixar sem jeito. Foste amor, foste paixão.
E eu gosto tanto de ti, depois de outros tantos ter provado, é de ti que me recordo quando a tristeza teima em vir. É a ti que eu culpo.
Porque estiveste presente tão pouco tempo, mas tão intensamente. Porque me deixaste apaixonar por ti. Sem dó, sem piedade, sem razão e sem medida.
Deixaste-me envolver contigo, para depois me ver de ti afastada.
Como fraca que sou, eu volto sempre. Eu espero sempre por ti. Eu não penso senão em ti.
Estávamos na cama a falar. Falávamos em tons suaves quando queríamos mesmo eram discutir. Não tenho culpa de ter referido que te estava a roubar a possibilidade de teres filhos. É verdade amor, tens 39 agora e eu só tenho 17. Sabes bem que quero estudar, e uma gravidez não é adequada. Dizia eu sem te olhar nos olhos. Falaste em congelação de espermatozóides e afins. Mas nada me tira este peso do peito. Amor, depois vais ser pai na idade de seres avô. Ainda tens uma mulher que te aguarda e te quer. Uma mulher fértil e fecunda com amor para ti. Respondi-te gaguejando e chorando sangue. E tu lançaste eu não a amo. Chega para que a rejeite. E levantaste-te. Só tinhas os boxers mas mesmo assim, na noite fria gelada do Norte abriste a janela do quarto e fumaste um cigarro. Eu levantei-me da cama também. Vesti a tua camisa e saí porta fora. Fui ao fim do corredor e comprei café. Duplo para mim, simples para ti. Enquanto esperava escorreguei a parede fria e sentada no chão percebi que não te posso perder. Voltei ao quarto e estavas a chorar de cigarro na mão. Deixei os cafés na mesa e fui-te abraçar à janela. Não me respondeste. Não deixaste o cigarro. E só consegui exclamar: só tenho medo que te arrependas, porque não te consigo perder. Atiraste o segundo cigarro, intacto ainda, pela janela fora. Tomaste o meu corpo e abraçaste-me. Disseste que eu era a salvação dos teus dias. Beijaste-me e encostaste-me à varanda. Quanto gelo tinha eu. Os pés descalços no chão frio orvalhado, as costas desnudadas nas grades geladas pela geada. Olhaste-me os olhos e disseste que até de noite eu era bonita. E perguntaste: o que queres de mim? Eu disse à noite eu de ti? Quero-te a ti. Não sei se percebeste. Mas levaste-me para a cama outra vez. Beijaste-me como se eu fosse tão tua como sou minha, e, com a janela aberta possuíste-me outra vez pela noite fora. Acho que adormeci sobre o teu peito. Nua ainda, com a janela aberta. E vi que somos a cura perfeita para os nossos vícios. Eu que te abraço enquanto fumas, tu que me olhas enquanto tomo o café.
a gente vai-se habituando à solidão..vamos querendo mais e mais a cama feita..a porta fechada..e as folhas em branco para escrevermos a nossa pacata vida. depois..há uma mudança, há um je ne sais quoi que se altera... e a rotina da solidão deixa de fazer sentido...é incrível quando nos habituamos a algo e logo a seguir temos que mudar. seja pelo que for. tantas as vezes que isso aconteceu na minha vida, e cada vez mais eu penso nisso. a morte do meu pai, as mudanças de casa, a minha turma...ou até o pequeno facto do café não ser mais o mesmo. coisas tão pequenas, ou tão monstruosas, mas que mudam tanto, que alteram tanto. e a rotina...vai mudando. deixa de ser rotina e passa a ser dia-a-dia, sempre moldável sempre diferente. o nosso corpo tenta habituar-se á mudança, o nosso cérebro tenta assimilar tudo isso..mas muda tudo mais uma vez. nova cidade, novas pessoas. um curso tão chato quanto fantástico. amigos novos tão incríveis...e mudamos tudo de novo...incrível como o nosso corpo se tenta habituar e não desiste. incrível como os nossos olhos ao fim do dia se fecham de cansaço, mas adormecemos com um sorriso. incrível...como a cada dia que passa aprendemos a amar aquilo que temos, a amar as pequenas coisas, a amar as pessoas, e a amar quem nos ama. talvez nada seja eterno, talvez a terra afinal não seja redonda, talvez matemática não seja difícil, talvez o amor não seja só para alguns seres especiais capaz de o ter e de o receber. certo é, que quando algum de nós a ele tem direito, tem o dever de o cuidar, de o manter e de o ter. e a solidão..essa resta perdida entre os lençóis, entre as manchas de choros na almofada...essa resta...como uma memória...um dissabor da vida.