Num reino muito, muito distante vivia uma princesa. Uma bela princesa que acreditava que o amor não servia para nada. Nem os problemas que o amor tinha era motivo para que ela o tentasse sentir. Então, naquela terra a princesa declarou que não existia mais amor.
Todos estavam proibidos de amar, todos estavam fechados ao amor. E aquele que demonstrasse o menor sinal de carinho, de compaixão iria ter morte declarada. Primeiro seria sujeito às dolorosas fustigadas da princesa, bem como aos seus olhares de reprovação. Depois, essas pessoas que ainda tentavam mostrar que o amor existia e era bom eram mortas.
A princesa de tão transtornada que andava inventava mortes tão macabras que nem o vilão da história ficava indiferente. Porque, como vocês sabem, onde não há amor não há vida. E a princesa não via isso.
Não notava que nos campos verdejantes, onde outrora animais passeavam, e famílias faziam picnics, agora as pedras estavam nuas e a terra árida. Os animais morriam, mesmo com comida, com água, morriam escanzelados e com olhares perdidos. E as pessoas estavam cegas. Tiraram-lhes o amor e deixaram de ver. Viam tudo a preto e branco. Não distinguiam os seus entes queridos, não esboçavam sorrisos. Ficaram com a face paralisada, com os olhos perdidos, a boca colada.
E a princesa cega de raiva não notava que o seu reino cada vez mais decrépito começou a ganhar odor a podridão. Porque onde não existe amor não existe vida. Não existe vontade. Não existe força. E as pessoas iam morrendo, não morriam apenas algumas. Morriam todas. E todos os dias alguns de olhares perdidos tombavam no chão.
A princesa, sem ver que o chão que pisava e chutava estava cheio de carne necrosada, de ossos já comidos pelos animais. E continuava no seu reino.
Até que apareceu um príncipe. Um jovem de estatura média, cabelo negro, olhos negros e profundos, boca pequena e moreno. Maldita a hora em que o príncipe sorriu. Era boa educação no seu reino sorrir. Mas, quando chegou ao reino desta princesa e viu todo o mundo sem expressão, sorriu.